Na infância que deveria ser de brincadeiras, uma invasão traz dores mais profundas do que se imagina: medo e trauma. Na adolescência que guardava sonhos para o futuro: tristeza e decepção. De quem se esperava proteção: violência e frustração”
Esta foi a abertura do Programa ETC da TV Aparecida exibido no dia 25 de julho, sobre o abuso sexual de crianças e adolescentes. Em entrevista ao vivo, o Coordenador de Programas da Childhood Brasil, Itamar Batista Gonçalves, ressaltou que a cultura do machismo, entre outros fatores sociais e econômicos, é um dos fatores que colaboram para o grande número de casos de abuso sexual infantojuvenil no país. Ele ressalta que, ainda hoje, existem leilões de garotas virgens, muitos dos quais promovidos por autoridades, como prefeitos e juízes.
Itamar cita o caso de uma mulher de 43 anos, que atualmente trabalha no enfrentamento à violência sexual infantojuvenil. Ela foi abusada dos seis aos 16 anos, quando adotada por uma família para fazer sozinha todo o trabalho doméstico. Além de apanhar dos irmãos e do pai adotivo, ela era violentada sexualmente por ele. Itamar comenta que, em muitas regiões do País, o pai ainda acredita que tem posse da filha e deve ser o primeiro a ter relações com ela. Ele lembra que, há algumas décadas, as mulheres casavam-se antes dos 14 anos e, muitas vezes, não se respeitava nem o fato de a menina não ter tido ainda a primeira menstruação. “É nossa responsabilidade como adultos, promover o desenvolvimento da criança, garantindo os seus direitos”, afirma.
O Coordenador de Programas ressalta, ainda, que muitas meninas estão nas ruas para fugir da violência sofrida dentro da própria casa. Muitos familiares não acreditam quando a criança conta o que está acontecendo e, às vezes, até a expulsam de casa. Os agressores negam e dizem que são histórias inventadas.
Para piorar a situação, normalmente, a criança se sente culpada, porque o abusador a manipula, a ameaça. “A criança confunde o abuso com carinho, não sabe o que está acontecendo, mas está havendo uma intervenção no desenvolvimento de sua sexualidade”, diz Itamar. “A mágoa destes jovens que foram vítimas, além dos traumas do próprio abuso, é de não terem sido protegidos pelos adultos que não acreditam na sua voz quando denunciam”, afirma.
Segundo Itamar, para enfrentar esta situação é preciso levar a sério o que a criança está dizendo. Ele também incentiva que as pessoas denunciem os agressores, por meio do telefone Disque 100, que garante o anonimato. A denúncia será checada pelas autoridades competentes.
Turismo sexual
No programa, Itamar também ressaltou os projetos da Childhood Brasil em parceria com os hotéis e as empresas do setor de transportes para enfrentar a exploração sexual infantojunvenil. Os hotéis aderem a um Código de Conduta Ética no qual se comprometem, por exemplo, a não hospedar nenhuma criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou sem autorização por escrito dos mesmos. Na parceria com as empresas transportadoras, campanhas educativas ajudam os caminhoneiros a se tornarem agentes de proteção da infância nas estradas.
Fonte: Childhood Brasil - 02/09/2011
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