Visivelmente abatido, mas com força para provar sua inocência, Colbert Martins Filho (PMDB), ex-deputado e secretário – afastado – de desenvolvimento do ministério do Turismo, desembarcou nesta sexta-feira (19) no aeroporto de Salvador. Preso pela Polícia Federal no dia nove e liberado três dias depois sob acusação de assinar convênios com uma ONG que serviriam para desvio de verba do ministério, Colbert chegou a Salvador aplaudido. Em entrevista ao Bocão News, o peemedebista disse que “não há fato” e também disse que ele e sua família foram violentados. Comparou a operação Voucher, em que foi preso, com a Alquimia, que envolve um rombo de mais de R$ 1 bilhão na Receita Federal e que os nomes dos envolvidos sequer foram divulgados. Também comentou sobre a possibilidade de processar o Estado por causa do vazamento das fotos.
Bocão News: O senhor pretende tomar alguma providência com relação a sua superexposição nessa operação da Polícia Federal? Colbert Martins: Primeiro reitero que não há fato. Eu vou me defender e trazer todas as informações. Já me coloquei à disposição da Câmara, do Senado, do Tribunal de Contas da União, do Ministério Público, da Procuradoria. Se eu tivesse qualquer determinação da CGU ou da Procuradoria para sustar convênios, faria na mesma hora. Não o fiz porque só recebi pedidos de informação e respondi a todos na maior tranqüilidade. Então, o que eu reclamo é com relação à minha honra pessoal. A exposição e foi desnecessária e espero que os servidores que viabilizaram aquelas fotografias sejam exemplarmente punidos.
BN: Mas o que realmente aconteceu para o senhor acabar na cadeia?
CM: Em 2009 um convenio foi firmado com uma ONG para fazer um curso no estado do Amapá. Foram liberados três pagamentos de R$ 900 mil. O quarto pagamento, que eu autorizei, com base no processo que teve participação da procuradoria jurídica com nota técnica dizendo que o projeto tá em andamento, que só termina agora dia 30 de setembro. AS informações pedidas pelo Ministério Público e Polícia Federal foram respondidas. Não que estivesse em investigação. Foram alguns questionamentos que nós demos as informações necessárias. Em nenhum momento o TCU pediu para suspender os convênios. Eu também não suspeitei. Se tivesse suspeitado, eu teria agido.
BN: Mas o senhor então não fez nada para checar isso após os questionamentos da PF e do MP?
CM: Tentei mandar um funcionário chegar in loco, mas logo em seguida no Amapá tiveram as inundações e acabamos falhando nessa investigação. Eu vou deixar a disposição o site do ministério do Turismo, que tem lá um mapa onde estão todos os dados desse convênio.
BN: O senhor pretende voltar ao cargo no ministério do Turismo?
CM: Eu só pretendo voltar à medida que seja reconhecido que não tenho nada a ver com essa situação. Aliás, eu sou o único de todos os servidores que foram citados que pode retornar hoje. Todos os outros tiveram o habeas corpus com a retirada dos respectivos cargos. Eu sou o único que pode assumir hoje. Não assumi ainda e não assumirei enquanto não se comprovar a verdade, verdade essa que eu não tenho nada a esconder.
BN: Onde o senhor estava quando estourou essa notícia da Operação Voucher?
CM: Eu estava no aeroporto de Congonhas em São Paulo voltando para Brasília, após um evento na Fiesp, quando fui abordado por um delegado da Polícia Federal com um mandado. Foi dessa forma que eu tomei conhecimento, por volta das 8 da manhã.
BN: Mas como foi a reação do seu partido, o PMDB, com relação a sua prisão?
CM: Eu falei logo cedo com o vice-presidente Michel Temer, que também não tinha informações sobre o assunto. Houve uma mobilização muito forte do partido, recebi todo o apoio possível e agradeço por isso. Agradeço ao meu amigo Geddel Vieira Lima e a toda sua família, ao presidente Raupp. Enfim, o partido foi todo muito solidário. A partir daí houve uma grande movimentação de setores da sociedade brasileira, principalmente em Feira de Santana e na Bahia toda, que eu agradeço muito. Principalmente a partir da divulgação daquelas fotos, o que gerou uma indignação muito grande.
BN: Há um comparativo entre a operação onde o senhor acabou preso e a operação Alquimia, cujos nomes dos envolvidos sequer foram citados? Houve uso político da sua imagem?
CM: Eu prefiro não acreditar, até porque outras pessoas que não são políticas também tiveram fotos divulgadas. Mas há uma diferença muito grande na ação da PF em uma apuração de R$ 1 bilhão pra outra de R$ 4 milhões. Isso precisa ser esclarecido.
BN: O que o senhor pretende fazer se voltar para o ministério. Vai haver uma apuração maior ?
CM: Eu já vinha analisando todos os convênios do ministério. É um setor grande de trabalho não só na área de qualificação, mas na área de infraestrutura.
BN: Agora, sua defesa foi quase que unânime na classe política, independente de filiação partidária. A que se deve isso?
CM: É por causa de uma relação aberta que eu sempre tive. O governador Wagner me ligou, o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, me ligou. Enfim, posso citar uma infinidade de pessoas com quem eu mantenho boas relações. Acho que na Bahia hoje há uma relação pessoal muito melhor e uma relação de respeito entre as pessoas. Sempre respeitei todos, sendo adversários ou não. Tenho que agradecer muito essa defesa, até porque o patrimônio que minha família, que meu pai deixa pra nós é justamente essa linha do respeito e da honestidade.
BN: Mesmo com toda essa defesa, o que aconteceu manchou a história política do senhor. Como pretende reverter essa situação, já que tem pretensões políticas na Bahia?
CM: Eu sou político. Pretendo reverter mostrando que não há fato. Eu não tenho que provar inocência porque não há fato, e quero mostrar isso com muita careza. Sei do desgaste que provocou na imagem, até porque na internet tem pessoas fazendo o uso de tudo quanto é tipo, principalmente aquelas pessoas que não se expõem, se resguardam no anonimato para se aproveitar desse tipo de situação. Agora, minha honra vai ser reparada e eu vou até as últimas conseqüências para isso. Espero que o governo do Amapá aja.
BN: Então o senhor pretende ir à justiça?
CM: Vou analisar isso no momento correto. Mas acho que vazamento de informação pública tem que ser punido, qualquer um. Se você pedir hoje uma cópia do processo você não consegue, pois está em segredo de justiça. Como tem um segredo de justiça se houve vazamento? Quem é que vaza? As pessoas que vazam informações públicas têm que ser punidas.
BN: Para finalizar, queria que o senhor falasse sobre o que achou dessa situação, desde a prisão até o vazamento das fotos.
CM: Eu acho que na hora falta chão. Você não entende o que está acontecendo. As pessoas que estão com você não acham que não é verdade, você tem que convencer a todas as pessoas de sua família sobre o que está acontecendo. O que me sobra de lição nesse momento é a humildade, o agradecimento à família, que está mais próxima nesse momento. Tenho que agradecer a Feira de Santana, a Bahia. A imprensa baiana quase que de uma forma unânime teve uma atitude respeitosa comigo, assim como eu sempre a respeite. Mais do que isso, é bom saber que o poder é pequeno. A humildade nossa é que tem que ser muito maior. Sei que tem teve muito comigo lá, e Maria Rita sabe disso, foi Irmã Dulce. Ela nos acompanhou muito bem.
Fotos: Roberto Viana - Bocão News
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